Até não poder mais
Não posso mais mentir, Constança
Sou apenas a resistência do passado
Como guerrilheiro fiel
A um amor que já passou
Não posso mais sentir, Constança
Os braços da revolução
A pele maltratada de Maio
E uma esperança
Morta em vão
Não posso mais descansar, Constança
À sombra dos dias azuis do rio
As palavras flutuantes
Afundaram-se
Como pedras
Não posso mais contar segredos, Constança
Como quem estica os braços
Na escuridão
Somos apenas desconhecidos
Não posso mais, Constança
Ser manso como um sopro ao ouvido
Agreste como pássaro a aprender a voar
Já não rosas
Entre nós
Não volto
Até não poder mais
Manuel Sousa