23 de janeiro de 2012

Sê sozinho
Nada em ti busques
Senão a solidão do teu olhar
Nada em ti imagines
Senão o que o vento te pode dar
O instinto da morte

Tudo em mim se move
Como mundos desconexos
Numa luta de sobrevivência
Entre o instinto e a solidão
Entre a morte e o desdém de mim mesmo

A morte só corrói o corpo inerte
Sem sentidos
Esta luta insana corrói sonhos
Insiste em matar devaneios
Insiste em desfilar de escudo em mão
De espada em punho

Seca-me a boca, secam-me as mãos paradas
Os olhos tremem com medo de se fechar
O peito aperta com medo de parar
Por que dói
Por que não se apaga sem sentir
Que o dia não há-de chegar
Que a sorte seria não ter a quem chamar

Clamam os lobos
Clamam das masmorras
Vozes surdas, ainda vestidas
Do luto de acreditar
Vivem do instinto da morte
Da morte do instinto

Saem os barcos para o mar
Vão despejar corpos
Como garrafas vazias
Vão vender as almas
Como prostitutas de amar

E se reinventássemos os barcos
Se navegassem sem sede de amar
E se reinventássemos os instintos
Se ardessem sem pressa de chegar

O peito treme
Não voltarei a falar
Não voltarei a amar

19 de janeiro de 2012

A vergonha

Contar-me-ias um segredo
Como quem deixa cair uma pedra no rio
Esquecer-te-ias do tempo
Que o pudesse apagar

Mostrar-me-ias os teus sulcos nas mãos
Dos dias que não podes apagar
Desmascarar-te-ias dos teus sonhos
Ainda por reinventar

Levar-me-ias a um castelo abandonado
Como quem esquece o passado
Rasgar-te-ias das tuas vergonhas
Que te prendem o olhar