8 de agosto de 2009

O ponto branco da rampa preta

É talvez um daqueles dias em que as nossas palavras não têm nome, Marta
Não começam e não acabam
Fogem, enrolam-nos a língua nos odores acres do inexplicável

É talvez um daqueles dias em que as nossas músicas não têm tons
Não se exaltam e não se movem
Sufocam, ensurdecem-nos o ouvido em súplicas inaudíveis

É talvez um daqueles dias em que os nossos olhares não se cruzam
Não vêem e não choram
Fustigam-se em abstractos negrumes do fim da linha

É talvez um daqueles dias em que as nossas mãos não se tocam
Não sentem e não se realizam
Suam, paradas no corpo vazio

É talvez um daqueles dias em que a nossa cumplicidade se envolve
Sem nome, sem som, sem imagem e sem forma
Unem-se no ponto branco da rampa preta