21 de maio de 2009

D’este viver


Agora, as portas da casa do Chiado abrem-se num vazio,

E o cheiro a coentros das tuas mãos

A salsa do vagão de luz da cama do quarto de fundo,

E a maça verde dos ferrolhos das portas

São fedores da despedida a bordo do Vera Cruz


O jasmim das tuas pernas,

O manjericão e o martini dos teus lábios,

Vendem-se ao preço da partida

(ou da chegada)

Vendem-se ao preço dos odores pretos,

Dos odores a mosquitos, a minas, a medo,

Odores de homens escondidos, de homens a chorar, a sangrar


Aqui paga-se tudo,

Apaga-se tudo,

Paga-se o som dos morteiros em festa,

Apaga-se a tua última carta inquieta, as tuas mãos gélidas,

(Nada se apaga)

Paga-se o preço de uma arma em punho

Apaga-se da lista mais um soldado

(Nada se apaga)

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