A eternidade do idealismo
Permaneço...
Nu, uma ferida no joelho, outra no peito.
Respiro e não penso.
O sobrolho sangra, mas desse já nem me lembro,
Que fiz eu ontem?
Talvez pintando paredes com restos de comida,
Talvez o mesmo que hoje, que o amanhã
Sei o início, os ideais que me apedrejarão até morrer,
E os guardas que me cercam, sem rosto, com punho calejado de sangue,
Que me espancarão até esta dor no peito se avolumar ao abdómen, aos pulmões.
(Respiro menos)
De que valerá esta luta, esta bala encostada na perna direita?
(O amanhã será o mesmo que hoje, que o anteontem)
A mordaça esquece a dor,
A dor esquece a dúvida,
A dúvida enaltece o idealismo,
E o idealismo eterniza a vida,
Que não é minha, amordaçado, dorido, talvez em dúvida
(Que fiz eu ontem?)
Foram, por certo, os massacres das greves dos barcos de pesca,
Dos homens do lixo.
Foram, por certo, aqueles rapazes na prisão subterrânea em benefício de um saco de arroz roubado,
Aquelas raparigas violadas pela boleia que pediram, pelos livros que imaginaram.
Foram, por certo, as mãos queimadas do charro circulava,
Foram os muros, o desprezo, o ‘matem-se só a vocês’,
Foram tantos os que lembraram o Forte de S. Julião da Barra.
Permaneço e não permaneço...
Porque são estes que ainda lembro.
E o que fiz ontem não me interessa,
Porque enquanto um guarda tentava acabar a minha greve de condescendência com a vida que permanece lá fora,
Outro alguém disparava um tiro numa mulher,
Porque nasceu mulher,
Outro alguém cilindrava o carteiro, o mercador e o poeta
Porque o irritava a honestidade.
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