10 de março de 2009

O poema emudecido

Hoje acordei - levantei o braço num gesto solitário
Não cheirava a suor - o da noite de costas voltada
Não experimentava insónias - ressequidas dos cadáveres calados
Morreste em tudo, Constança

Findou a condenação do meu prazer - quem sabe involuntário
E o discurso do que não conhecias, do que não vias - sempre grosseira
Brotou apenas este poema emudecido - sem mágoa, sem saudade

E tudo quanto somos agora é o tempo que começa e o que acabou
É dia crepitante e o opaco
A vida e a morte pronunciadas

Manuel Sousa

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