Cadência
Às vezes acho que vou morrer
E a sensação é tão real
Que o espelho reflecte uma escura ausência
Tremo, fumo, bebo rapidamente
Para que o corpo embriagado
Não sinta
Não saiba se é morte ou vida
Se é verdade ou o lugar da alma reacendida no fogo
Da decadência humana
Um dia - e todos os dias são esse dia
A garganta secará instantaneamente
A cabeça rodará sobre espinhos
O pescoço rangerá
E as palavras de pânico soltar-se-ão sem mais
Os meus pés arrastarão a sombra
E tudo o que sonhei - porque o meu viver é sonhar
Mergulhará na eternidade
Habitarei uma casa de xisto
Olharei introspectivo o forno aceso para o cozer do pão
Sentirei a força dos braços
Ou serei o pó de mais uma estrada
Mais um buraco sombrio
Tento escutar o meu andar
Mas do chão sinto apenas o ladear dos pés
Sinto tudo
Mas insano a vida
É talvez o fado
Triste, irreversível, fardado de medo
É talvez a vida repentina - para que qualquer momento possa ser eterno
Sou tão novo e embarco numa caixa sem liberdade - aquilo não sou eu
Embuço a felicidade
E procuro o princípio de tudo
Não chorem, não exasperem este meu adeus
Dêem ao meu corpo o silêncio a que pertence
E a minha alma acesa de mortalidade
Será incansavelmente cadenciada em palavras
29 de janeiro de 2009
22 de janeiro de 2009
A morte que deste a ti
Cuspo a memória da cera
Que me escorre pelas mãos
Enrugadas do tempo
(bem sei que a memória é um lugar em constante mutação)
A tua pele seca - pálida de morte que deste a ti
Encobre o teu egocentrismo demente - ai, Constança, esse corpo já não é teu
Digo-te adeus
Mas já nem o sinto
Pobre memória de velho a minha, Constança
Tudo o que vejo é raiva
Das loucas confissões que um dia te fiz
Entre o fumo branco que se espalha agora
Dos cigarros da morte
E sei que agora as éguas
Voltarão a correr pelos vales
Como era no tempo em que não te conhecia - voltarei a ser feliz
Manuel Sousa
Cuspo a memória da cera
Que me escorre pelas mãos
Enrugadas do tempo
(bem sei que a memória é um lugar em constante mutação)
A tua pele seca - pálida de morte que deste a ti
Encobre o teu egocentrismo demente - ai, Constança, esse corpo já não é teu
Digo-te adeus
Mas já nem o sinto
Pobre memória de velho a minha, Constança
Tudo o que vejo é raiva
Das loucas confissões que um dia te fiz
Entre o fumo branco que se espalha agora
Dos cigarros da morte
E sei que agora as éguas
Voltarão a correr pelos vales
Como era no tempo em que não te conhecia - voltarei a ser feliz
Manuel Sousa
15 de janeiro de 2009
Não te importes com a sombra
Escura que o meu corpo deixa para trás
Não te importes com os lençóis rasgados - que agora me cobrem -
Que secaram as lágrimas das nossas discussões
Não te importes com as palavras - agora feitas de silêncio -
Cinzentas que ficaram escritas no teu corpo
Não te importes com as mãos - agora vazias do meu respirar -
Que ergueste tantas noites ao ar
O Outono adornou as flores
Que o Inverno adormeceu
Mas uma Primavera de esperança
Há-de dar cor às cinzas dos meus pensamentos
E um Verão suado de lágrimas
Arregalar as fontes de uma estátua minha
Não te importes, meu amor
A ausência nunca será maior
Que a dor desumana que a morte levou
Escura que o meu corpo deixa para trás
Não te importes com os lençóis rasgados - que agora me cobrem -
Que secaram as lágrimas das nossas discussões
Não te importes com as palavras - agora feitas de silêncio -
Cinzentas que ficaram escritas no teu corpo
Não te importes com as mãos - agora vazias do meu respirar -
Que ergueste tantas noites ao ar
O Outono adornou as flores
Que o Inverno adormeceu
Mas uma Primavera de esperança
Há-de dar cor às cinzas dos meus pensamentos
E um Verão suado de lágrimas
Arregalar as fontes de uma estátua minha
Não te importes, meu amor
A ausência nunca será maior
Que a dor desumana que a morte levou
11 de janeiro de 2009
Elogio ao sonho
O sonho sobrevive às pessoas, aos dias, aos lugares O sonho sobrevive à memória, à saudade, ao espelho da razão O sonho sobrevive à história, à guerra e à dor
O sonho é um idealista convicto O sonho ama o desconhecido sem medo O sonho existe e deixa de existir
O sonho é risco O sonho é louco O sonho é a imperfeição sonhada
O sonho conhece a paixão eterna O sonho é fiel ao amor O sonho é incansável
O sonho é silêncio O sonho é cor O sonho é o tacto do infinito
O sonho é liberdade O sonho é o grande companheiro de Deus
E o que há entre a vida e o sonho? O nada
O sonho sobrevive às pessoas, aos dias, aos lugares O sonho sobrevive à memória, à saudade, ao espelho da razão O sonho sobrevive à história, à guerra e à dor
O sonho é um idealista convicto O sonho ama o desconhecido sem medo O sonho existe e deixa de existir
O sonho é risco O sonho é louco O sonho é a imperfeição sonhada
O sonho conhece a paixão eterna O sonho é fiel ao amor O sonho é incansável
O sonho é silêncio O sonho é cor O sonho é o tacto do infinito
O sonho é liberdade O sonho é o grande companheiro de Deus
E o que há entre a vida e o sonho? O nada
5 de janeiro de 2009
O amor
O amor é a extravagância da loucura
Corpos consumindo-se na eternidade do momento
O amor é a vivência de ideais
Em valsas quietas
E um sussurro platónico no ouvido esquerdo
O amor é agarrar o comboio para não partires
É embriagarmo-nos no cheiro dos corpos
O amor é permanecer no silêncio da montanha
É contar histórias ao anoitecer
O amor é o enlouquecer da distância
O amor é oferecer palavras
Poderemos viver loucos de amor?
Poderemos desenlaçar o platonismo contundente?
Poderemos escolher o amor?
E acaso alguém o souber
Saiba-se tristemente prisioneiro
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