30 de agosto de 2008

Nada é claro


Nunca saberia o que é o dia

Se não existisse a noite

Nunca saberia o que é o silêncio

Se não fosse o ruído

Nunca saberia o que é a dança

Se não parasse

Nunca saberia o que é a multidão

Se não andasse sozinho

Nunca saberia o que é a paixão

Se não me soubesse afastar

Nunca saberia o que é o risco

Se não me sentisse seguro


E os melhores dias são quando nada disto é claro

29 de agosto de 2008

Pai


Pai, o teu silêncio forte

Faz-me confidente

E percebo o infindável da vida


Na agitação do comércio de Bissau

No agarrar da mão do desconhecido

Sinto o teu sangue a correr-me nas veias

Fulgurante


E a tua imagem

Corre nos braços de mais um amigo

Na simplicidade

De um assobio


Ensinaste-me a amar o invisível

E a erguer a vida a cada passo

28 de agosto de 2008

Risco


Aqui não há risco

Ninguém arrisca sentar-se

À espera que a vida lhe diga

O rumo a seguir

Ninguém arrisca um dia sem pensar

Ninguém arrisca os batuques da noite

Ninguém arrisca não querer mais do que a vida

Segredo


Adormeço

Com saudades do abraço

Murmurante

Na audácia do segredo

Voltar


Enlouqueço

Mudo

Como um escravo

Mãos vazias

Coração atrapalhado


Apetece fugir

Voltar à liberdade

Da tabanca

Tapar os buracos

Que me atravessam

A alma


Apetece voltar

Ao inextinguível

Da controversa paixão

Enlouquecer


Caminho como um louco

Há procura do meu lugar

Não o encontro

Talvez nunca o tenha tido


Sufocam-me as prateleiras

Organizados em livros

Desconhecidos

As pessoas atarefadas

No politicamente correcto


Aqui respira-se seriedade

Mas a tranquilidade

E a paixão

Voam no alto


Enquanto viajo

Louco amordaçado

Salto na procura

Da liberdade africana

Companheira de vida

Esta gente


Por mais que me entranhe

Na terra do castanho forte

Que corra de mão dada

Ainda não tenho o cheiro

Desta gente


Ainda não tenho a paciência

Da manhã a acabar

A tarde a chegar


Ainda não tenho a força

Do teu carregar


Ainda não tenho o silêncio

Do teu sentir

Tão leve

Como a dança que já começa

Na noite

Futuro imprevisível


Por que te sentas aí

Mãos atadas?

Por que te julgas impotente?

A terra é de um castanho forte

E o horizonte de um verde de esperança


O teu olhar é penetrante

Como o vento

As palavras transparecem

A bondade que carregas

Fazem-me teu companheiro

Da viagem do tempo


A presença de Deus faz-se visível

No futuro imprevisível

Hesito


Como é estranho voltar

Ao sonho construído

De um vermelho acinzentado

Do pôr do sol


Nada me pertence

Nem o silêncio da chuva

Ao desabar

Nem o escuro da noite

Ao deitar


Sinto-me como pássaro

Que estranha o seu ninho


Hesito

Fujo, espreito

Receio entrar