29 de outubro de 2007


Estranha claridade

Não sei se gosto, se desejo

Esta noite caminho sozinho

Pela noite clara, transparente

Em busca de outras preocupações

Luta pela sobrevivência

Sem inocência, talvez pureza


Arde em mim a vontade

De apagar histórias

De abandonar projectos

Tudo o que vejo

Tudo o que foi sussurrado

Ensaiado

E partir sem saber onde estou

Onde vivi, lugares onde cruzei

Luares e olhares


Fugir

Sem palavras

Despojado de formas

Sem vento nem medos

O que em mim não existe

O fim de tudo

Conhecido

26 de outubro de 2007


Embarcar

Passo pela noite

O mundo do meu silêncio

As asas do meu andar


As vozes que entoam entre capas

São choros tão altos

Dos rostos escuros

Que teimam em me inventar


Ninguém os ouve

Nem com o olhar


Um dia em terra seca

Escondidos de quem passa na estrada

Entre danças de uma ‘tabanca’

Deus deu-me a graça de os escutar


Os rostos brancos visíveis

Não sei se não os quero

Vejo-os de passagem

Como um vento sem assobio

E um barco parado na margem


Numa noite escura

Pode ser que a barcaça se faça ao mar

E dos rostos brancos

Memória apenas de embarcar

14 de outubro de 2007


Terra a terra

Imagino-me ali deitado

Pequeno, estupefacto

Olhando a noite

Por cima da neblina

O branco no preto

As estrelas desenham um caminho

Vejo-o como ninguém

Tem rectas e curvas e refúgios em círculo

Suavemente estico o braço

Ajeito aquela estrela alheada

Arquitecto eloquente o trilho perfeito

Mas amanhã quando o dia amanhecer

O caminho é apenas o Sol

E o meu rumo é seguir

Terra a terra, sem mais

12 de outubro de 2007


Rosto de chuva

Se um dia caminharmos encharcados em chuva

Em palavras desencontradas

Confidencia ao sonho

O lugar onde nos podemos encontrar

O meu sonho tem o teu rosto

E a sintonia há-de voltar