23 de setembro de 2009

Hoje ainda ninguém morreu

Anoiteceu.
E desta vez ninguém morreu nas imediações.
Um silêncio feroz a que não estava habituado.
Uma doença tardia.

Ouvem-se ainda tiros ao longe,
O tirilintar dos morteiros no esconderijo da noite.
Ninguém ainda morreu, confirma-se.

Aqui, não penso em Deus,
Esse Deus perto no longe, que se confunde com a noite.
Aqui, penso nos teus tornozelos deslizando no meu peito,
No teu sexo, imperturbavelmente húmido.

Aqui, envelheço sem dias num dia,
Como cancro a descoberto.
Aqui, putrifica a ignóbil pátria,
Que mata o seu povo,
O povo que ilegitimamente é seu,
E a sua mãe, terra.

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