22 de setembro de 2009

A cor

Outra cor.
Começaram a chover corpos perfumados,
Começou o que chamam uma peça,
E eu choro, choro como um pêndulo,
Neste espaço engalfinhado,
Talvez, aos vossos olhos, arrependido,
Deste dia que começa e acaba atrás das estranhas grades.

Aqui, conto sem escrúpulos os dias
Que sobejam até à sombra da minha morte, cor de ferrugem.
Morreria. É certo que morreria.
Incomoda-me apenas a brutalidade dos vossos olhares condescendentes,
Cinzentos vagamente claros,
Do desconhecimento de duas amigas,
Dos estilhaços em que desfiz todo o pudor de um corpo num pesadelo,
E esperei até ver rugas cor de magenta.

Pudesse eu ter olhos cor de novo,
Pudesse eu morrer durante a peça.

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