Hoje ainda ninguém morreu
Anoiteceu.
E desta vez ninguém morreu nas imediações.
Um silêncio feroz a que não estava habituado.
Uma doença tardia.
Ouvem-se ainda tiros ao longe,
O tirilintar dos morteiros no esconderijo da noite.
Ninguém ainda morreu, confirma-se.
Aqui, não penso em Deus,
Esse Deus perto no longe, que se confunde com a noite.
Aqui, penso nos teus tornozelos deslizando no meu peito,
No teu sexo, imperturbavelmente húmido.
Aqui, envelheço sem dias num dia,
Como cancro a descoberto.
Aqui, putrifica a ignóbil pátria,
Que mata o seu povo,
O povo que ilegitimamente é seu,
E a sua mãe, terra.
23 de setembro de 2009
22 de setembro de 2009
A cor
Outra cor.
Começaram a chover corpos perfumados,
Começou o que chamam uma peça,
E eu choro, choro como um pêndulo,
Neste espaço engalfinhado,
Talvez, aos vossos olhos, arrependido,
Deste dia que começa e acaba atrás das estranhas grades.
Aqui, conto sem escrúpulos os dias
Que sobejam até à sombra da minha morte, cor de ferrugem.
Morreria. É certo que morreria.
Incomoda-me apenas a brutalidade dos vossos olhares condescendentes,
Cinzentos vagamente claros,
Do desconhecimento de duas amigas,
Dos estilhaços em que desfiz todo o pudor de um corpo num pesadelo,
E esperei até ver rugas cor de magenta.
Pudesse eu ter olhos cor de novo,
Pudesse eu morrer durante a peça.
Outra cor.
Começaram a chover corpos perfumados,
Começou o que chamam uma peça,
E eu choro, choro como um pêndulo,
Neste espaço engalfinhado,
Talvez, aos vossos olhos, arrependido,
Deste dia que começa e acaba atrás das estranhas grades.
Aqui, conto sem escrúpulos os dias
Que sobejam até à sombra da minha morte, cor de ferrugem.
Morreria. É certo que morreria.
Incomoda-me apenas a brutalidade dos vossos olhares condescendentes,
Cinzentos vagamente claros,
Do desconhecimento de duas amigas,
Dos estilhaços em que desfiz todo o pudor de um corpo num pesadelo,
E esperei até ver rugas cor de magenta.
Pudesse eu ter olhos cor de novo,
Pudesse eu morrer durante a peça.
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