O enternecimento da diferença
Às tuas palavras
Respondo com o silêncio do anoitecer
Ao teu toque
Estanco-me na timidez de criança
No teu beijo
Escrevo um sopro de Outono
No teu segredo
Uma vontade de contar ao mundo
Porque o mar desenha-se em terra
caminho de loucura
Círculo
É a imagem de Deus no mundo
Um círculo
E a vida resume-se a círculos
Com muros em volta
O animal em cada um enfurece-se na procura
De um início inexistente
Pobre
Seco de impotência
Tardiamente reconhece a passagem
Pelo espaço já ocupado na memória
Como que por lapso
E a sorte é de quem descobre
Que em cada repetido círculo por onde passa
É mais uma oportunidade
Para quem sabe
Viver
O adeus
A luz toldou-se
E o abismo é um passo incerto
Apodrecido do Inverno
Os cheiros gélidos
Percorrem-me como a morte
E o mais que quero é abandonar
O corpo que me persegue
Vejo falsas verdades
Árvores anarquistas em violentas marchas
Pedras religiosamente espalhadas
Entre corpos quebrados
Quem me persegue?
Que de olhos escancarados
Sou cego de medo
Quem me acolhe
A solidão estendida
Nesta floresta veementemente rasgada
No teu adeus
O que é verdadeiro
Vivo de amores perdidos
Não quero acordar
O imperceptível ao olhar
Quem és tu
Já não me lembro
Quem és tu de novo
Poder, sedução, fuga
Ilusão, escravidão, morte
E quem sou eu de novo
Um lugar sem fim
De sonhos
Para quando a coragem de partir
O fim da desavença com a liberdade
De um mundo de sentidos
Perdidos
O início do que é verdadeiro