24 de novembro de 2008


O enternecimento da diferença


Às tuas palavras

Respondo com o silêncio do anoitecer

Ao teu toque

Estanco-me na timidez de criança

No teu beijo

Escrevo um sopro de Outono

No teu segredo

Uma vontade de contar ao mundo


Porque o mar desenha-se em terra

Com o enternecimento da diferença

19 de novembro de 2008


Laranja


Hoje escuto o silêncio em mim

Como laranja ao entardecer


Círculo


É a imagem de Deus no mundo

Um círculo


E a vida resume-se a círculos

Com muros em volta


O animal em cada um enfurece-se na procura

De um início inexistente

Pobre

Seco de impotência


Tardiamente reconhece a passagem

Pelo espaço já ocupado na memória

Como que por lapso


E a sorte é de quem descobre

Que em cada repetido círculo por onde passa

É mais uma oportunidade

Para quem sabe

Viver

18 de novembro de 2008


O adeus


A luz toldou-se

E o abismo é um passo incerto

Apodrecido do Inverno


Os cheiros gélidos

Percorrem-me como a morte

E o mais que quero é abandonar

O corpo que me persegue


Vejo falsas verdades

Árvores anarquistas em violentas marchas

Pedras religiosamente espalhadas

Entre corpos quebrados


Quem me persegue?

Que de olhos escancarados

Sou cego de medo


Quem me acolhe

A solidão estendida

Nesta floresta veementemente rasgada

No teu adeus

14 de novembro de 2008


O que é verdadeiro


Vivo de amores perdidos

Não quero acordar

O imperceptível ao olhar


Quem és tu

Já não me lembro

Quem és tu de novo


Poder, sedução, fuga

Ilusão, escravidão, morte


E quem sou eu de novo


Um lugar sem fim

De sonhos


Para quando a coragem de partir

O fim da desavença com a liberdade

De um mundo de sentidos

Perdidos


O início do que é verdadeiro