25 de junho de 2008


Rasgos de vida


Há coisas que não podemos contar

Dentro de nós

Ganham formas

Tonalidades que não conseguimos exprimir

Tactos desenhados


Todos os dias ganham movimento

Porque corremos ao pensar nelas

Em fúria

Damos-lhes emoções e fantasias


Um dia

Saberemos se são meras ilusões

Se são rasgos de vida

24 de junho de 2008

Lei da vida


Escureceu a noite

E com ela o fogo


O vento tomou conta das cinzas

E carregou a última brasa

Incandescente


Os toros desalinhados

Insistem em apodrecer

Em sossego

20 de junho de 2008


Sul


Não fiques aí muda

Mãos paradas

Ergue os braços nessa luta imponente

Olha-me com a ternura de quem parte

E vai estrada fora


Não leves nada

Não temas o que não tens

Caminha apenas com o entusiasmo

Do sul

Sente o cheiro, a cor da humidade

O quente da terra que pisas

E a dança dos corpos nus


Irei para outras paragens

De um cinzento forte

Onde o mar abraça a terra desfraldada

Onde a esperança nunca há-de morrer

Porque a vida é para quem a sabe sorrir


Um dia

Corpos exaustos

Sentados nos buracos do chão

Havemos de contar as histórias

Da nossa paixão

2 de junho de 2008


O silêncio do velório


Já não há rosas no teu colo, Constança

Exaustas da companhia

Desfizeram-se em espinhos


Já não colocas pétalas, Constança

De magnólias de uma seda branca

Ao portão

Desenhando sonhos


Já não roubamos laranjas, Constança

Da cor do pôr-do-sol

Envelheceram connosco


Já não nos escondemos, Constança

Entre o milho alto

Desfiamo-lo inocentes nas pequenas loucuras


Já não caminhamos pelas falésias, Constança

Embebidos em sal

À nossa volta já só existe areia solta


Vivemos no silêncio do velório


Manuel Sousa