14 de novembro de 2012


És talvez um lápis embriagado
Que se desenha a si próprio
Ou uma borracha insaciável
Que se apaga em imperfeição

Tens um rosto
Que não se reconcilia com o corpo
E mãos que se rasgam como folhas de papel
Tens ombros presos por cordas
E braços que se desfiam num furacão

Mas os teus pensamentos
Desnudam-se como o vento da serra
E em cada sentido
Devolves o mar

E assim, és em mim o nevoeiro insaciável
Da solidão que temo encontrar
E uma réstia de esperança
De amar

Todos nós sofremos
E o que é certo: sofrer sem saber
Ou saber a sofrer?
Será pior o pensamento sem sombra
Ou a sombra do pensamento?
Será pior o vulto perdido
Ou perder por ser vulto?

E quando chega o nevoeiro da morte
Já não sabemos se é morte ou nevoeiro
Se vende ou é vendido
Porque o que parece
Não sabemos se é ou não

Por isso, não me chamem sofredor
Sequer mentira
Sofro do que me parece
Não ter sentido