O silêncio das palavras
Fechado no quarto
Vou batendo ao de leve com os dedos na estante dos livros
O silêncio é cru, prolonga-se para além do corpo
Não sinto senão o vazio
Que não é um sentimento, um estado de espírito
É a ausência feroz de sentidos
Um estado pálido de sensações que estagna o meu sangue
Se eu morrer, tu serás morte
Mas não há dor nisso
É como um balde de água que se despeja
Não te olho
(ver é sonhar)
Não te respiro
(respirar é correr o risco)
Sou inerte, sou a brisa do fim de tarde
Que passa sem se sentir
Gritas na minha direcção
Como quem apaga o quadro escrito
Sussurras baixinho
Como quem acaba de contar a história ao filho
Mas a névoa que tenho à volta da alma não esvanece
Talvez se liberte com a morte
Nada resta
Tenho vontade de adormecer no silêncio das palavras
20 de janeiro de 2011
9 de janeiro de 2011
A negação do sonho
Se pudesse escolher entre vidas
Escolheria não viver nenhuma delas
Pela ausência da inconsciência
Que este sentir do sonho – ainda que não o conheça – me dá
Vivo de sensações que o corpo esquece
E a memória transforma
Vivo de sonhos que o meu inconsciente inventa
E o corpo nega
Vivo no limite entre o ínfimo e o eterno
Porque não sou nenhum deles
Vivo entre estados de alma de um Deus
Que a razão não pode justificar
Por que sonho então?
Pela negação dos sentidos
Ou pela reinvenção do contraditório?
Se pudesse escolher entre vidas
Escolheria não viver nenhuma delas
Pela ausência da inconsciência
Que este sentir do sonho – ainda que não o conheça – me dá
Vivo de sensações que o corpo esquece
E a memória transforma
Vivo de sonhos que o meu inconsciente inventa
E o corpo nega
Vivo no limite entre o ínfimo e o eterno
Porque não sou nenhum deles
Vivo entre estados de alma de um Deus
Que a razão não pode justificar
Por que sonho então?
Pela negação dos sentidos
Ou pela reinvenção do contraditório?
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