O instinto da morte
Tudo em mim se move
Como mundos desconexos
Numa luta de sobrevivência
Entre o instinto e a solidão
Entre a morte e o desdém de mim mesmo
A morte só corrói o corpo inerte
Sem sentidos
Esta luta insana corrói sonhos
Insiste em matar devaneios
Insiste em desfilar de escudo em mão
De espada em punho
Seca-me a boca, secam-me as mãos paradas
Os olhos tremem com medo de se fechar
O peito aperta com medo de parar
Por que dói
Por que não se apaga sem sentir
Que o dia não há-de chegar
Que a sorte seria não ter a quem chamar
Clamam os lobos
Clamam das masmorras
Vozes surdas, ainda vestidas
Do luto de acreditar
Vivem do instinto da morte
Da morte do instinto
Saem os barcos para o mar
Vão despejar corpos
Como garrafas vazias
Vão vender as almas
Como prostitutas de amar
E se reinventássemos os barcos
Se navegassem sem sede de amar
E se reinventássemos os instintos
Se ardessem sem pressa de chegar
O peito treme
Não voltarei a falar
Não voltarei a amar