A rua dos pinheiros em arco
Houve dias em que nos sentávamos na rua deserta
Por debaixo dos pinheiros em arco
E despíamos os corpos em silêncio
Dávamos voltas de olhos fechados
Numa fúria transcendente de sentidos
Arquitectando o abismo – em pleno deserto – de cada um
Onde queríamos viver
Depois parávamos
E um silêncio tosco, genuíno
Pairava sobre os pássaros e os mochos
Que ali enlouqueciam
Deitávamo-nos então sobre a quente liberdade do alcatrão
E, ao sentir os corpos, rezávamos baixinho
Para sermos imortais
Não sei se lá voltámos
Eu permaneço – como autista
A ver o teu corpo desenhado no alcatrão
E agarro, com a força de um rei
A tua mão
Enquanto sinto correr no meu sangue
O ópio da tua aparência
14 de março de 2011
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