Carta a uma poetisa
Já não me lembro quando a esqueci
Não me lembro se era noite, ainda
Se o vento frio do nascer dia
Levou a carta que recebi sua
Desde então, aprendo a amar a solidão
A solidão de amar,
Deixando que os movimentos do silêncio
Criem o mundo com que possa entregar-me definitivamente
Ao ser que também me puder amar
Reconheço que muitas vezes é difícil,
Não vejo senão o escuro, que me prende
Não oiço senão gritos,
Os gritos da mulher que está a ser apedrejada.
Mas, saber que é difícil, deixa-me ainda mais atento, mais delicado.
É a visão do imprescindível.
Também a morte é difícil. Mas plena.
Como vê, esqueci-a,
Mas um dia estarei preparado para a amar.
Sem que sejam interpostas palavras.
Seremos apenas fiéis a um amor,
E reconheceremos, em cada gesto, a entrega do pintor.
25 de março de 2010
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