O que somos não fomos
Andamos às voltas com o silêncio.
Somos, no fundo, o nosso silêncio,
A fonte seca das diversas águas que confluem,
Sem nome.
E quando nos pedem palavras,
Nem sabem o escuro em que elas nos descrevem.
Quem poderá conhecer o mar por palavras,
O som do rebentar das ondas,
Se ainda não mergulhou nele?
A incomensurabilidade de criança
É agora este silêncio,
Que nos guia num escuro tão intenso,
Que os olhos não servem,
As mãos não sentem,
E um grito não afasta o medo de nós mesmos.
É também este silêncio,
Que tolera os defeitos, os feitos,
Os sofrimentos e contentamentos de quem o faz.
É apenas deste silêncio que escrevemos palavras.
22 de outubro de 2009
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