29 de julho de 2009

A terra par’além do mar

Na minha terra há uma escada para o mar
Onde há garrafas, papéis e bigornas a boiar
Há laranjeiras e choupos e vento a passear
Uma colina, uma bicicleta à chuva,
E um cigarro por apagar

Na minha terra não há candeeiros
Não há urgência de amar
O fim da tarde senta-se em silêncio
Contemplando a noite despida ao chegar

Na minha terra ninguém faz planos
Dos velhos, dos novos, de todos hão-de cuidar
Há braços, há força
E um arado a trabalhar
Há um banco onde descansar
E onde morte é certa de acabar

Na minha terra vive um poeta, um pensador
Mais transparente que o ar
Escreve a imortalidade com o próprio sangue
E palavras emudecidas ao cheiro do relento dos pinheiros
Sem lugar

A minha terra é a memória esquecida
Par’além do mar